3 de agosto

3 de agosto...Um dia que ficou na memória das gentes do Pinhal. Há 17 anos, um enorme incêndio, num só dia, tirou-lhes o que de mais puro tinham, 80% da floresta de Oleiros, muitas memórias roubadas e duas vidas, a lamentar. Infelizmente, não foi a primeira vez, nem a última. O incêndio recente, da última semana, recorda-nos como viver em Oleiros ou nas vilas do interior significa viver em alerta constante perante este inimigo que nos visita anualmente. Mas como vivem estas gentes este flagelo? Acho que a palavra certa para descrever é resiliência. Resiliência para continuar e reerguer mesmo que nem sempre seja fácil, para reconstruir e replantar. Resiliência que se traduz no prevenir, no esperar, no combater, no conhecer bem o inimigo…No ter sempre água disponível e ferramentas prontas para que, se o inimigo bater à porta, a batalha seja travada de forma mais justa. Traduz-se em solidariedade, que aos primeiros soares da sirene dos bombeiros, faz com que dezenas de mobilizem, para ajudar no que for preciso...desde o combate, ao sinalizar quem se encontra sozinho ou ajudar no preparar de uma refeição para os bombeiros. As gentes de Oleiros carregam muitas memórias, e o reviver ano após ano, por vezes, teima em não deixar serenar essas memórias. São marcos que estão registados na memória coletiva e individual carregados de vivência de experiências limite potencialmente traumáticas, de medo intenso, de sentirem a vida delas em risco. Sabemos por definição que trauma é isso mesmo: o viver uma experiência de ameaça de vida ou ferimento grave vivida pelo próprio, testemunhada ou ter tido conhecimento que algum familiar ou amigo próximo que esteve em risco de vida. Os habitantes são simultaneamente profissionais que também são chamados a intervir (bombeiros, funcionários de municípios, autoridades, cozinheiras….) e que também carregam o peso de dar o melhor neste combate.
Não esquecendo a enorme capacidade de resiliência desta população, convém lembrar que é importante que esta população tenha sempre disponível, desde a primeira hora, apoio psicológico, caso necessite, e que as suas narrativas possam ser partilhadas, ouvidas e reconstruídas, para que, efetivamente seja possível tornar a comunidade ainda mais resiliente e continuar a reerguer.
Rafaela Lopes