Seminário
Circuitos de Dominação do Capital e o Desafio da (Re)Invenção da Emancipação no Séc XXI
RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS
DE MARX A GRAMSCI: HEGEMONIA, MEMÓRIA E O REGRESSO DA POLÍTICA
Fernando Rosas
A presente comunicação tem como propósito proceder, no quadro teórico fornecido pelas reflexões de Marx e de A. Gramsci sobre a ideologia e o conceito de hegemonia, a uma sucinta análise sobre a luta em curso nas sociedades ocidentais acerca da subsistência, dos conteúdos e da relevância das memórias sobre o século XX. Discute-se o papel da Memória, as características do assédio de que é objecto e o progressivo e inexorável retorno da politização dos discursos das ciências sociais que a trabalham.
A EXPANSÃO DO CAPITAL E SUAS FORMAS ATUAIS DE DOMÍNIO: SENTIDOS E PERSPECTIVAS DA CRISE
Alba Carvalho
Nas últimas décadas do séc. XX e primeira do séc. XXI, vivemos um novo momento na civilização do capital: a mundialização com dominância financeira. A predatória expansão capitalista avança, parecendo não ter limites: o capital não poupa nada, nem ninguém. Torna redundante a vida de crescente contingente humano, violentando a natureza, pondo em risco a própria vida planetária.
Nesta civilização mundializada do capital e sua lógica ilimitada de expansão afirmam-se novas formas de dominação social a assumir dimensões peculiares: são formas de dominação cada vez mais abstratas, impessoais, perversamente sutis, mas objetivamente generalizantes. É um padrão de dominação abstrata que envolve toda a sociedade, impondo-se àsdiferente “personas do capital”. Em verdade, é um metabolismo social que faz sentir seu peso, seu poder, seu domínio como uma força estrutural que se apresenta como alheia aos indivíduos. Tal força metabólica do capital impõe modos de vida, define formas de sociabilidade. Neste contexto mundializado, regido pela lógica da dominação abstrata do capital, difunde-se a instabilidade, a insegurança, como expressões de época.
Na atual conjuntura de crise financeira americana que se espraia pelo mundo, expressa-se, com dureza, a insegurança como marca do sistema do capital no século XXI. Nos grandes centros de decisão econômica domina a incerteza, transformada em pânico. O fantasma do colapso revela o seu rosto. A crise americana é a crise no espaço da interpenetração financeira, produtiva, comercial à escala planetária, formando uma trama muito densa e abrangente.
A crise aponta para mudanças, (re) colocando o “regresso do Estado” no centro da cena histórica e no foco das análises. Estamos ante uma “nova globalização pós-neoliberal”, no dizer de Boaventura de Sousa Santos (2008). Emergem novos regionalismos. Neste cenário de crises, abalos e redefinições impõe-se, com urgência, o desafio de (re) invenção da emancipação social.
MOVIMENTO DO CAPITAL NA MONOCULTURA DO CONSUMO: UMA PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO
Luciane Lucas dos Santos
O consumo se configura, na sociedade contemporânea, como um importante marcador social. Se neste aspecto reside sua força, aí também se encontra seu ponto maior de crítica, já que a produção simbólica implícita nos atos de consumo fortalece e legitima uma produção capitalista do espaço. Em tempos de obsolescência material e simbólica, vivemos a mais-valia estética do signo. Nada é feito para durar, configurando-se a estética do descartável como dinâmica predominante na sociedade.
Uma análise mais detalhada do consumo como fenómeno social nos mostra também que ele funciona como uma espécie de meta-monocultura, produzindo ausências que se naturalizam no discurso cotidiano. Há várias instâncias em que este fenómeno se produz, naturalizando mecanismos de apropriação e violência (tanto material como simbólica): o corpo, a saúde, a produção e uso do espaço. São múltiplas as dimensões em que a lógica do capital atua.
Um dos cenários em que esta lógica pode ser percebida com relativa nitidez é o que corresponde à produção e circulação dos alimentos – hoje transformados em ativo financeiro. O par produção – consumo de alimentos constitui um bom exemplo de como, hoje, se produzem, legitimam e naturalizam ausências. Ao mostrar que a fome resulta menos da disponibilidade de alimentos do que de uma divisão desigual do espaço, buscamos evidenciar como o mercado transnacional de alimentos reproduz, neste sentido, um projeto neocolonial do espaço.
PERSPECTIVAS EMANCIPATORIAS DO CONSUMO: TROCAS SIMBÓLICAS E MATERIAIS NÃO-CAPITALISTAS
Luciane Lucas dos Santos
Alguns estudiosos têm argumentado que o consumo pode ser uma ferramenta de ação política. Neste sentido, consumidores teriam a oportunidade de exercer pressão sobre o mercado a partir de suas escolhas. Contudo, ao atrelar indivíduos e grupos a uma mais-valia estética do signo, o consumo capitalista suscita mecanismos permanentes de dominação. A questão que se coloca é: pode ser emancipatório?
Com base na teoria das cinco ecologias de Boaventura de Sousa Santos, discutimos a possibilidade de uma sexta ecologia – a ecologia do consumo - como alternativa transgressora da lógica de mercado. Buscamos identificar em que medida um outro modo de constituição de sentido pode articular-se em torno de experiências de consumo não-capitalista – a exemplo das cooperativas de consumo, dos clubes de troca e do comércio justo. Tendo como foco de análise o mercado de alimentos, fundamentamos a perspectiva emancipatória do consumo, aqui, a partir de uma relação possível com a soberania alimentar. |