Para um grande número de leitores fiéis, de colegas de profissão e de companheiros das muitas causas com as quais se foi envolvendo ao longo da vida, João Martins Pereira (1932-2008) permanece como uma referência da oposição de esquerda ao Estado Novo durante os anos 60 e 70. Pensador inconformista de uma intervenção política que entendia como igualitária e democrática, engenheiro de formação e de profissão, ensaísta atento, governante efémero, jornalista acidental, escritor de causas, estudioso da história do capitalismo português e de economia industrial. Foi um independente obstinado, um marxista heterodoxo e não dogmático e ainda, no que repetia ser a sua convicção mais funda, um sartreano radical.
O objectivo deste Colóquio, ao qual se encontra associada uma Exposição evocativa de JMP concebida por Susana Paiva a partir do espólio pessoal que a sua família depositou no Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, tem uma dimensão tríplice. Pretende, em primeiro lugar, funcionar como um espaço de divulgação e de discussão da obra extensa, complexa e multifacetada de João Martins Pereira; visa depois debater, numa perspectiva histórica, política e filosófica, os temas que mais o interessaram e as décadas de grandes transformações da sociedade portuguesa das quais foi empenhado intérprete e comentador; e finalmente procura prestar, no momento em que passam três anos sobre o seu desaparecimento, uma homenagem ao homem e ao intelectual, brilhante e corajoso, que como poucos soube no seu tempo conjugar a cidadania activa com uma reflexão serena e prospectiva.
Do conjunto da iniciativa espera-se um trabalho de aprofundamento do conhecimento dos contextos históricos que envolveram a sua vida, e dos temas, no domínio do pensamento económico, da filosofia, da política e da reflexão cidadã, que com ela, ao longo de cerca de cinco décadas, foram sempre confluindo. Espera-se também uma maior divulgação, mais do que merecida, do seu percurso e da sua obra.