Sessão cinematográfica + Debate

Outras histórias da Resistência no Cinema de Timor-Leste

José da Costa

Vannessa Hearman

23 de janeiro de 2018, 21h00

Sala do Carvão, Casa das Caldeiras da UC

Enquadramento

Projeção dos filmes «A Guerra da Beatriz» + «A História de José»


«A História de José: um documentário animado» de Wendy Chandler (Timor, 2013, 6 min)

Sinopse: José da Costa nasceu na selva de Timor-Leste em 1976. Após a brutal invasão de Timor pela Indonésia, a sua família andou em fuga durante três anos pelo território. Depois de testemunhar a morte de parte da sua família por inanição e o seu pai ser enforcado numa árvore, deixou a escola e viveu nas ruas de Dili. Tinha então 10 anos. Aos 14 anos juntou-se à resistência clandestina e, em 1991, participou na marcha pró-independência no cemitério de Santa Cruz. Mais de 250 timorenses foram massacrados pelo exército indonésio. Na sequência deste acontecimento foi preso e torturado. Em 1995, com 18 anos, foi um dos 17 recrutados para a operação «Tasi Diak», «Bom Mar». A sua missão era contar ao mundo as violações dos direitos humanos infligidos pelos indonésios e a luta pela liberdade que se estava a desenrolar em Timor. Depois de uma terrível viagem de 6 dias num minúsculo barco, conseguiram chegar a Darwin, no norte da Austrália. Como um refugiado na Austrália, José completou os seus estudos na área da Educação e, simultaneamente, contou a sua história em escolas e associações comunitárias, numa tentativa de despertar a consciência sobre os problemas do seu país. Depois da independência de Timor-Leste em 2002, regressou à sua cidade natal de Baucau, onde viu a sua mãe pela primeira vez em 20 anos. Hoje, José tem, finalmente, liberdade para contar a sua história. A história de José é um exemplo de esperança, resistência e sobrevivência.


«A Guerra Da Beatriz» de Bety Reis & Luigi Acquisto (Timor, 2013, 90 min)

Sinopse: A primeira longa metragem de Timor-Leste, "A Guerra da Beatriz" é um filme feito por timorenses sobre Timor-Leste – escrito por Irim Tolentino, que também representa o papel de Beatriz, e realizado por Bety Reis. É a história de uma mulher em permanecer fiel ao homem que ama e ao país pelo qual lutou. É uma adaptação da história francesa de "Martin Guerre", do século XVI. Nesta adaptação, a história original é transposta para Timor durante a ocupação indonésia. O filme começa em 1975 com o casamento de duas crianças de onze anos, Beatriz e Tomás, numa pequena aldeia montanhosa no coração de Timor. Quando a aldeia é atacada, Beatriz e Tomás fogem para as montanhas, vivendo e lutando com a resistência. Em 1983, Beatriz está grávida, há um cessar-fogo, e ela sente que é segura a rendição. Beatriz e Tomás mudam-se para a aldeia de Kraras, um campo-prisão indonésio, confiantes de que a guerra terminará em breve. Mas Beatriz é violada pelo capitão Sumitro, o indonésio que dirige o acampamento. A violação destina-se a provocar a resistência, para que o cessar-fogo termine, o que aconteceu. Eles atacam e matam muitos dos soldados indonésios no campo. Este ataque ameaça a vida do filho recém-nascido de Beatriz e ela, como medida de segurança, envia-o com a resistência. Beatriz, débil depois do parto, permanece no acampamento. Os militares indonésios retaliam massacrando todos os homens na aldeia, mais de duzentos homens e crianças, e Kraras passa a ser conhecida como a "aldeia das viúvas". Durante o massacre, Tomás é preso e desaparece. Beatriz não consegue encontrar seu corpo e agarra-se desesperadamente à ideia de que tenha escapado e que um dia retornará. Durante 16 anos, Beatriz torna-se uma líder clandestina. Em 1999, depois da independência de Timor-Leste, Tomás regressa. Após o massacre, fugiu e lutou com a resistência. Beatriz descobre agora um homem diferente do jovem que anos antes a havia deixado. Tomás agora é mais sábio, confiante e corajoso, algo que ele nunca fora enquanto criança ou jovem. Ele aprendeu muito com a vida de soldado. Mas, com o passar do tempo, Beatriz faz uma descoberta intrigante. Ela convence-se de que Tomas é um impostor e que confundiu um estranho com o seu marido. Quem é esse homem? Por que terá assumido uma nova identidade? A irmã e a família de Tomás acusam Beatriz de traição e de loucura. Mas ela está determinada a descobrir a verdade.
 

Intervenientes

José da Costa é realizador, ativista e cofundador da produtora Dili Film Works. Participou em vários filmes na Austrália e em Timor-leste (Answered by Fire e A Guerra da Beatriz). Formado na área de Ensino Básico, é autor de livros para crianças escritos em Tétum.

Vannessa Hearman é professora de Estudos Indonésios na Universidade Charles Darwin, Austrália. Tem centrado a sua pesquisa na violência anticomunista na Indonésia assim como as várias formas e histórias de ativismo na Indonésia e Timor-Leste.

Marisa Gonçalves é a investigadora em pós-doutoramento no Centro de Estudos Socias da Universidade de Coimbra, integrante do Grupo de Investigação sobre Democracia, Cidadania e Justiça. Tem realizado pesquisa sobre memória, história, ideias de direitos humanos e justiça em Timor-Leste.


Organização: Programa de Doutoramento Pós-Colonialismos e Cidadania Global (CES/FEUC) e Curso de Estudos Artísticos (FLUC)