A possibilidade de imaginar conhecimentos rivais, alternativos ou complementares à ciência moderna passa necessariamente pela crítica desta ciência enquanto modelo epistémico. A modernidade do 'Norte' constituiu-se como um engenho gerador de alteridades as quais, em nome da razão e do humanismo, excluem do seu imaginário outros saberes, a possibilidade de uma hibridação de conhecimentos, a ambiguidade e as incertezas associadas às diferentes formas sociais contemporâneas.

A situação colonial não pode, por isso mesmo, ser encarada apenas como um modelo de gestão política, económica e social, correspondente a uma determinada fase da evolução das economias e das políticas do 'Norte'. Ela deverá ser perspectivada, também, na sua dialéctica de permuta de dados culturais em que o seu carácter agonístico deriva da natureza impositiva e assimétrica das culturas em confronto. Nesta perspectiva, o 'Sul', o reconhecimento da existência de outros saberes sobre a natureza e sobre a sociedade, exprime todas as formas de subordinação de conhecimentos a que o sistema capitalista mundial deu origem.

A relação colonial / pós-colonial constitui assim uma janela privilegiada de análise das práticas e dos discursos de saber enquanto forma de poder. Este curso procurará não só desconstruir a narrativa colonial, escrita pelo colonizador, mas substitui-la por narrativas e perspectivas de solução alternativas, na busca de um saber emancipatório. Não é possível a construção de uma cidadania completa sem justiças cognitivas, sem o reconhecer da presença de diferentes formas de entender, saber e explicar o mundo. Todos os conhecimentos merecem e obrigam a um respeito igual, devendo estar presentes no nosso quotidiano de trabalho, sendo avaliados continuamente e estando em permanente relacionamento com outros saberes. O curso privilegiará uma análise alargada de relações de ruptura, continuidade e contaminação entre saberes, a partir de uma perspectiva multidisciplinar e situacional.